SAUDADE É O AMOR QUE FICA...
  • 08/07/2022

SAUDADE É O AMOR QUE FICA...

Como noticiado neste site, em primeiro de maio, a Fundação Espírita Judas Iscariotes passou por um processo de Chamamento Público (n° 10/2022) para regulamentar a parceria entre as entidades e a Prefeitura Municipal, mais especificamente a que define a contratualização e o acolhimento das pessoas idosas.

Na oportunidade, concorremos a dois (02) coletivos de abrigo-institucional e três (03) casas-lares. Vencemos o primeiro. O segundo não. Com o resultado final, setenta e quatro (72) idosos serão remanejados para outras instituições de Franca-SP, sendo trinta (30) para as casas-lares e quarenta e dois (42) para os demais abrigos institucionais.

Diversas contradições, questionamentos e incertezas estão por detrás deste resultado final, o qual foi contestado, através de um recurso muito bem elaborado, com o objetivo de demonstrar que a Fundação Espírita Judas Iscariotes seria a instituição com maior capacidade e expertise para a execução do serviço Casa-Lar.

Contudo, os esforços argumentativos fizeram-se insuficientes para sensibilizar o Poder Público Municipal e reverter o resultado a nosso favor. Tão logo, nessa semana que se encerra, chegou o primeiro momento de despedida...

Nesta última segunda-feira, 04/07/2022, trinta (30) moradores do Lar de Ofélia mudaram-se para a Casa São Camilo de Léllis. Foi um momento de sentimentos difusos: alegria pela nova morada, tristeza pelos vínculos que não os acompanharão, e, sobretudo, ansiedade e receio com o que ainda se apresenta incerto.

A mudança de um abrigo institucional para uma casa-lar, a bem da verdade, possui alguns prós e contras que precisam ser pesados. Habitar uma casa, com menos pessoas, significa ter um atendimento mais personalizado, estar (inserido e) mais próximo da comunidade, dispor de maior flexibilidade em algumas rotinas do dia-a-dia, além de outras questões.

Numa casa, desde que bem organizada, a pessoa idosa tem a possibilidade de acessar o guarda-roupa e escolher a roupa que deseja vestir, comemorar seu aniversário de maneira individual (e não mais coletiva), receber seus familiares em horários mais flexíveis, e principalmente, aos que possuem boa capacidade de locomoção e cognição, transitar pelo bairro, sair para fazer uma caminhada, ir ao supermercado, tomar ônibus sozinhos, dentre outras atividades.

Se ganham por um lado, ao mesmo tempo, perdem pelo outro. O abrigo-institucional, atualmente, não é mais o mesmo de outrora. Não é mais um “asilo” de velhos, frio, escuro, com as paredes mal alinhadas pelo contorno da pobreza, tal como era antigamente.

Os abrigos transformaram-se em “lares de idosos”, mais humanizados, com ambientes mais acolhedores, projetados e iluminados, atrativos, alegrados por músicas, além de extremamente capacitados e adaptados para responder às múltiplas demandas provenientes do envelhecimento.

Infelizmente, os moradores que partiram não terão mais acesso a esses e outros recursos – importantíssimos à pessoa idosa – que até então o “Lar de Ofélia” lhes oferecia, especialmente no âmbito da saúde, como médicos, enfermeira, fisioterapeutas, fonoaudióloga, nutricionista, educadora física, além de outros profissionais com ampla trajetória no cuidado da pessoa idosa.

Contudo, para além dos recursos profissionais que a partir de agora lhes serão encurtados, a casa-lar acaba restringindo-os em muitos aspectos: é um espaço menor, que não facilita a deambulação e manutenção das funções motoras; o círculo de amizades e socialização acaba sendo mais restrito aos moradores da própria residência; além de outros efeitos psicólogos não previsíveis ou desejáveis, pois houve a quebra de vínculos estabelecidos há anos, tanto entre os colaboradores do Lar de Ofélia e os moradores que se mudaram, como entre os moradores do Lar que ficaram e os que partiram...

Em resumo, as mudanças foram grandes, demasiadamente rápidas e com alguns ajustes de última hora, requisitados pelo poder público. A nosso ver, o processo poderia ter sido conduzido de maneira distinta, desde seu início, por caminhos mais suaves.

Neste momento de partida, alguns corações do “Lar de Ofélia” se enchem de emoção, e os olhos de lágrimas, num misto de pesar e alegria, por saber que trinta (30) moradores forçosamente deixaram este Lar, rumo ao desconhecido, com pessoas novas.

O que nos resta, neste momento, é agradecer pelo tempo em que estivemos juntos, colocá-los em nossas orações e desejar-lhes toda a sorte e felicidade deste mundo. Também desejamos que todos construam novos laços, edificados sob o amor e a empatia.

A equipe do “Lar de Ofélia”, composta por Diretores e colaboradores, deseja que esse novo ciclo seja abençoado, repleto de luz.

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